Cientistas chineses apresentaram em 25 de outubro um sistema de computação inteligente revolucionário denominado BIE-1 (BI Explorer) que aborda o desafio mais urgente da indústria de tecnologia global: o consumo massivo de energia dos sistemas de inteligência artificial.
O supercomputador, desenvolvido pelo Instituto de Ciência e Tecnologia de Inteligência de Guangdong (GDIIST), oferece desempenho computacional tradicional enquanto consome apenas um décimo da energia convencional, compatibilizando-se dentro de um espaço semelhante ao de um refrigerador doméstico de pequeno porte.
O sistema de computação neuromorfa foi lançado conjuntamente pela Zhuhai Hengqin Neogenint Technology e Suiren (Zhuhai) Medical Technology, ambas incubadas pelo GDIIST na Zona de Cooperação Aprofundada Guangdong-Macau.
A revelação ocorre enquanto centros de dados de inteligência artificial em escala global enfrentam crise energética exacerbada, com projeções indicando que a demanda de eletricidade por data centers dobrará até 2030, atingindo aproximadamente 1.000 terawatt-horas.
Inovação Arquitetônica Comprime Capacidade Supercomputacional em Formato Doméstico
O BIE-1 emprega redes neurais intuitivas e algoritmos inspirados em estrutura cerebral para alcançar ganhos revolucionários de eficiência computacional. O sistema integra 1.152 núcleos de processador, 4,8 terabytes de memória DDR5 e 204 terabytes de armazenamento em volume extremamente reduzido.
Diferentemente de supercomputadores tradicionais que requerem instalações especializadas com espaços de centenas de metros quadrados, o BIE-1 opera mediante conexão em tomadas elétricas residenciais padrão.
O dispositivo mantém temperaturas operacionais estáveis abaixo de 70 graus Celsius enquanto produz ruído operacional inferior a 45 decibéis, proporcionando “implantação facílima em residências, pequenos escritórios e até ambientes móveis”, conforme declaração de oficiais do GDIIST.
O sistema demontra velocidades de processamento excepcionais com capacidades de aprendizado atingindo 100.000 tokens por segundo e velocidades de inferência alcançando 500.000 tokens por segundo.
A plataforma multimodal processa simultaneamente entradas de texto, imagens e fala, permitindo aplicações inclusivas de monitoramento de saúde doméstico, tutoria inteligente personalizada e assistência de inteligência artificial para ambientes corporativos.
O GDIIST ressalta que o dispositivo democratiza acesso a capacidades computacionais de alto nível previamente restritas a instituições com recursos orçamentários elevados e infraestrutura especializada.
Contexto de Crise Energética Global Acelerada pela Proliferação de IA
O anúncio coincide com intensificação dos desafios energéticos confrontados pela indústria de inteligência artificial em escala planetária. Goldman Sachs projeta que o consumo de energia dos data centers de inteligência artificial aumentará 160 por cento até 2030, com expectativa de que a IA represente mais da metade de toda a eletricidade consumida em data centros até o encerramento do exercício fiscal atual.
Pesquisador da Universidade Vrije em Amsterdã, Alex de Vries-Gao, estima que o consumo energético realista de apenas módulos aceleradores de IA alcança entre 3 e 5,2 gigawatts, enquanto sistemas de IA completos incluindo infraestrutura de resfriamento poderiam consumir até 9,4 gigawatts — equivalente ao consumo elétrico total dos Países Baixos.
Com capacidade produtiva de chips esperada dobrar em 2025, o consumo potencial poderia ascender a 23 gigawatts, posicionando IA como um dos maiores consumidores de energia na infraestrutura digital global.
A Agência Internacional de Energia projeta que demanda global de eletricidade oriunda de data centers dobrará até 2030, chegando aproximadamente a 1.000 terawatt-horas. Projeções atuais sugerem que a inteligência artificial poderá consumir tanta eletricidade quanto o Japão até o final da década, enquanto gigantes tecnológicos como Microsoft, Google e Amazon exploram energia nuclear para operacionalizar suas infraestruturas de computação.
Posicionamento Estratégico na Competição Geopolítica Tecnológica
O anúncio posiciona a China como liderança em desenvolvimento de computação inteligente energeticamente eficiente, momento em que competição global intensifica-se dramaticamente. CEO da Nvidia, Jensen Huang, alertou recentemente que os Estados Unidos mantêm apenas “ligeira vantagem” sobre a China no desenvolvimento de IA, com possibilidade de liderança alterar-se rapidamente.
O foco chinês em eficiência energética alinha-se com estratégia nacional mais ampla de estabelecer a província de Guangdong como polo nacional de inovação em inteligência artificial. Planos governamentais determinam superar 2.000 empresas de IA e gerar mais de 300 bilhões de yuans em valor de indústria central de IA até 2025.
Em outubro de 2025, Guangdong anunciou 40 novos projetos de semicondutores no valor de US$ 74 bilhões, reforçando compromisso com autossuficiência em infraestrutura de computação.
Este desenvolvimento reflete investimento chinês estratégico em tecnologias de eficiência energética para equipamentos de inteligência artificial, posicionando o país como fornecedor potencial de soluções computacionais alternativas às plataformas dominadas por empresas americanas.
A estratégia também conecta-se com ambições mais amplas de estabelecer China como autoridade global em aplicações de IA no setor energético, com implementação extensiva planejada até 2027.

