A Arábia Saudita está recalibrando drasticamente suas prioridades econômicas, desviando investimentos massivos do megaprojeto Neom em direção à infraestrutura de inteligência artificial e tecnologias avançadas, enquanto o reino acena com sua vantagem energética para se estabelecer como fornecedor global de capacidade computacional.
A mudança estratégica reflete pressões de diversificação da economia frente à queda dos preços do petróleo e oportunidades geopolíticas na competição global por liderança tecnológica.

Reconfiguração de Investimentos e Desaceleração de Neom
O ambicioso megaprojeto Neom, originalmente orçado em US$ 500 bilhões, deixou de receber menção na declaração pré-orçamentária de 2026 da Arábia Saudita, rompendo um padrão de três anos consecutivos de destaque prominente. A peça central do empreendimento, conhecida como The Line — uma cidade linear de 170 quilômetros com arranha-céus espelhados — experimentou significativa desaceleração, com apenas um segmento de 2,4 quilômetros construído até o presente e a conclusão projetada postergada para 2045, uma extensão substancial das expectativas anteriores.
O Fundo de Investimento Público (PIF), entidade responsável pelo financiamento de Neom, registrou um aumento de prejuízos de US$ 8 bilhões atrelado ao projeto, sinalizando tensões financeiras aos investidores globais. Operações de construção sofreram alterações significativas, com realocação de trabalhadores da construção civil e redefinição do escopo operacional para focar em segmentos críticos.
Posicionamento Estratégico em Inteligência Artificial e Infraestrutura Computacional
Através da HUMAIN, empresa estatal de inteligência artificial fundada em maio de 2025 sob supervisão do Fundo de Investimento Público, o reino está canalizando recursos bilionários para transformar-se em potência computacional global. A HUMAIN Ventures estabeleceu um fundo de capital de risco de US$ 10 bilhões destinado a investimentos em startups de tecnologia nos mercados norte-americano, europeu e asiático.
O reino já consolidou parcerias estratégicas no valor de US$ 23 bilhões com gigantes tecnológicos americanos, incluindo Nvidia, AMD, Amazon Web Services e Qualcomm, fundamentando sua expansão infraestrutural. A HUMAIN pretende construir capacidade de data center de 6,6 gigawatts até 2034, ampliando significativamente as operações computacionais necessárias para treinar e executar modelos de inteligência artificial de próxima geração.
A nação busca capturar aproximadamente 6 a 7% das operações globais de treinamento e inferência de IA até 2030, configurando-se como fornecedor essencial de recursos computacionais para desenvolvdores em múltiplas geografias. Projetos de data centers multibilionários estão sendo planejados em regiões estratégicas, incluindo um complexo de US$ 5 bilhões na região noroeste próxima ao Mar Vermelho, destinado a servir mercados europeus.
Executivos de empresas como OpenAI, Google, Qualcomm, Intel e Oracle convergiram para a Conferência de Iniciativa de Investimento Futuro de 27 a 30 de outubro em Riad, onde anúncios sobre expansão de IA dominaram as discussões. As negociações com a empresa xAI de Elon Musk aproximam-se de conclusão, representando o que oficiais descrevem como um “plano significativamente maior” de fornecimento de capacidade computacional.
As pressões econômicas decorrentes da queda nos preços do petróleo — redução superior a 10% em Londres durante 2025 — tornaram imperativa a diversificação econômica, tendo o petróleo representado aproximadamente metade do produto interno bruto. O Ministro das Finanças Mohammed Al-Jadaan expressou disposição institucional em redefinir estratégias que “atualmente não fazem sentido”, indicando flexibilidade governamental para realinhar prioridades.

