A IUCN revelou em Abu Dhabi que 47.000 espécies agora figuram na Lista Vermelha, com mudanças climáticas superando doenças como principal causa de perda de biodiversidade e ameaçando especialmente corais e anfíbios em escala global.
A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) lançou sua mais recente Lista Vermelha durante o Congresso Mundial de Conservação, realizado em Abu Dhabi de 7 a 11 de outubro. A avaliação, conduzida por 160 pesquisadores de diversos países, mostra que as espécies ameaçadas enfrentam um cenário inédito: as mudanças climáticas passaram a ser o fator dominante no declínio de populações, ultrapassando patógenos, perda de habitat e exploração direta.

Mudanças climáticas despontam como principal vilã
A atualização revela que 44% das espécies de corais construtores de recifes estão ameaçadas de extinção, evidenciando o efeito devastador do branqueamento causado pelo aumento das temperaturas oceânicas. As focas do Ártico aparecem em risco crítico devido à rápida redução de gelo marinho, enquanto 41% das espécies de anfíbios — já sensíveis a alterações térmicas e hídricas — enfrentam perigo equivalente.
A reavaliação global de aves aponta quedas populacionais impulsionadas pelo desmatamento aliado a mudanças no padrão das chuvas e migrações. Ameaças relacionadas ao clima também aparecem para mamíferos marinhos, insetos polinizadores e plantas endêmicas de ilhas, com vários grupos taxonômicos registrando declínios acentuados em regiões antes consideradas seguras.
“Estamos testemunhando uma redefinição das prioridades de conservação”, afirmou a bióloga Marlene Araujo, participante do congresso. “O clima agora lidera as causas de declínio de biodiversidade, exigindo ações climáticas imediatas para evitar extinções em massa.”
Impacto socioeconômico: quase 1 bilhão de pessoas em risco
Os recifes de coral, embora cubram menos de 1% do fundo marinho, sustentam 25% de todas as espécies oceânicas e geram US$ 2,7 trilhões por ano em pesca, turismo e serviços de proteção costeira. O colapso desses ecossistemas compromete a segurança alimentar e a economia de comunidades costeiras que dependem diretamente dos recifes.
Anfíbios, por sua vez, controlam populações de insetos e mantêm o equilíbrio de ecossistemas terrestres. O declínio de sapos, rãs e salamandras pode agravar surtos de doenças, prejudicar a agricultura e afetar cadeias tróficas inteiras. Estima-se que quase um bilhão de pessoas — pescadores, agricultores e populações indígenas — podem perder recursos vitais com o avanço da crise.
Debates acalorados sobre biologia sintética e engenharia genética
No congresso da IUCN, duas moções polarizam a comunidade científica. A Moção 133, apoiada por mais de 90 ONGs, propõe moratória global à engenharia genética de espécies selvagens, alegando “ausência de evidências” de benefícios em restauração da natureza. A proposta contrária defende que a biologia sintética, se avaliada caso a caso, pode oferecer soluções inovadoras para resgatar populações críticas.
“A discussão não é apenas técnica, mas ética e filosófica”, explicou o geneticista Paulo Mendes. “Intervir diretamente no genoma de espécies ameaçadas pode salvar populações, mas também traz riscos de consequências imprevistas em ecossistemas já fragilizados.”
Pontos de inflexão positivos em energias renováveis
Apesar do cenário alarmante, o relatório também destaca avanços notáveis: a queda nos custos de energia solar e a aceleração da adoção de veículos elétricos cruzaram pontos de inflexão benéficos, ampliando a capacidade global de reduzir emissões de gases de efeito estufa. Essas mudanças podem criar efeitos multiplicadores na mitigação de riscos a longo prazo para a biodiversidade.
Urgência máxima antes da COP30
Os resultados da Lista Vermelha chegaram às vésperas da COP30, marcada para novembro em Belém (PA). Delegados brasileiros já incorporaram os dados para pressionar na negociação de metas mais ambiciosas de redução de emissões e financiamento climático.
A cientista climática Ana Rodrigues alerta: “Se não limitar o aquecimento a 1,5 °C e proteger corredores ecológicos, veremos pontos de inflexão adicionais, como colapso da Amazônia e derretimento acelerado de gelo polar, desencadeando disrupções para bilhões de pessoas.”
A atualização da Lista Vermelha da IUCN deixa claro que a crise climática extrapola setores tradicionais da conservação. Para evitar uma sexta extinção em massa, especialistas defendem:
- Adoção imediata de políticas de descarbonização acelerada
- Expansão de áreas protegidas e corredores de migração de espécies
- Financiamento robusto para restauração de habitats críticos
- Cooperação científica global com acesso aberto a dados de monitoramento
Sem essas medidas urgentes, a aliança entre biodiversidade e clima pode desmoronar, levando ao colapso de sistemas naturais essenciais ao bem-estar humano.
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