O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, confirmou nesta sexta-feira (10) que as obras do data center do TikTok no Ceará terão início em seis meses, consolidando um dos maiores investimentos tecnológicos da história brasileira com aporte previsto de R$ 50 bilhões. O anúncio foi feito durante o III Fórum Esfera Internacional, realizado em Belém (PA), onde o ministro destacou o potencial do país para atrair megaprojetos do setor digital.

(Cédito: Divulgação/Esfera Brasil) (Divulgação Esfera Brasil)
Detalhes Técnicos e Operacionais
O empreendimento representa uma parceria estratégica entre a ByteDance, proprietária da plataforma chinesa TikTok, e a Casa dos Ventos, uma das principais geradoras de energia renovável do Brasil. A instalação será construída no complexo portuário de Pecém, em Caucaia, região metropolitana de Fortaleza, aproveitando a infraestrutura logística já consolidada e a proximidade com parques eólicos offshore.
Com capacidade inicial de 300 megawatts, o data center entrará em operação a partir de dezembro de 2027, segundo documentos técnicos analisados. A estrutura ocupará área superior a 200 hectares e contará com sistemas avançados de refrigeração por imersão, tecnologia que reduz significativamente o consumo energético em comparação com métodos tradicionais de resfriamento por ar condicionado.
O projeto beneficia-se diretamente da Medida Provisória 1.318/2025, conhecida como ReData, assinada pelo presidente Lula em setembro. Esta legislação institui um regime especial de tributação para data centers no Brasil, oferecendo isenção de impostos federais sobre equipamentos de tecnologia importados, incluindo servidores, sistemas de armazenamento e infraestrutura de rede. Os benefícios fiscais são condicionados ao uso exclusivo de energia 100% renovável, alinhando-se às políticas ambientais do governo federal.
A MP ReData estabelece que empresas beneficiadas devem destinar obrigatoriamente 2% dos investimentos totais para pesquisa e desenvolvimento no país, fomentando a inovação tecnológica nacional. O governo federal reservou R$ 5,2 bilhões no orçamento de 2026 especificamente para viabilizar esses incentivos, estimando que o programa possa atrair investimentos privados de até R$ 2 trilhões em dez anos.
Resistência Comunitária e Questões Ambientais
Apesar da importância econômica, o projeto enfrenta forte oposição da comunidade indígena Anacé, que habita a região há mais de 400 anos. Em agosto de 2025, o grupo protocolou representação no Ministério Público Federal solicitando a suspensão imediata do processo de licenciamento ambiental, alegando violação da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, que garante consulta prévia a povos tradicionais sobre projetos que afetem seus territórios.
As principais preocupações dos Anacé incluem impactos em sítios arqueológicos e sagrados, alterações nos padrões de pesca artesanal e possível contaminação de aquíferos utilizados pela comunidade. Lideranças indígenas argumentam que o governo brasileiro descumpriu acordos internacionais ao não realizar consulta livre, prévia e informada antes de autorizar estudos de viabilidade.
O consumo hídrico do data center gera debates técnicos intensos. Estimativas oficiais apontam necessidade de 30 mil litros de água diários para refrigeração, valor considerado conservador por especialistas internacionais. Projetos similares na Europa e Estados Unidos demandam volumes até dez vezes superiores, levantando questionamentos sobre a real dimensão do impacto ambiental.
A questão se torna mais sensível considerando o histórico de secas da região: Caucaia declarou estado de emergência por estiagem em 16 dos últimos 21 anos, segundo dados da Defesa Civil estadual. Estudos ambientais indicam que o data center consumirá energia equivalente ao uso diário de 2,2 milhões de brasileiros, demandando construção de parques eólicos adicionais para garantir fornecimento 100% renovável.
Impactos Econômicos e Tecnológicos
O data center do TikTok representa marco na expansão da economia digital brasileira, posicionando o Nordeste como hub tecnológico regional. Durante a fase de construção, estima-se geração de 1.500 empregos diretos em engenharia, construção civil e instalação de equipamentos especializados. Na operação, serão criadas 300 vagas permanentes focadas em tecnologia da informação, engenharia elétrica e manutenção de sistemas críticos.
Além dos empregos diretos, o projeto deve estimular desenvolvimento da cadeia de fornecedores locais, incluindo empresas de segurança, serviços de manutenção, fornecimento de energia e logística portuária. A Casa dos Ventos planeja expansão de sua capacidade de geração eólica especificamente para atender a demanda do data center, criando efeito multiplicador em investimentos de energia renovável.
O data center também fortalecerá a infraestrutura digital nacional, reduzindo latência para usuários do TikTok no Brasil e América Latina. Especialistas projetam que a instalação pode atrair outros gigantes tecnológicos para estabelecer operações similares no Nordeste, criando cluster de inovação digital na região.
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