O presidente Lai Ching-te anunciou nesta quinta-feira (10) a implantação do T-Dome, sistema de defesa aérea multilayer inspirado no Iron Dome de Israel, reforçando as capacidades antiaéreas de Taiwan em resposta às crescentes ameaças da China.
O T-Dome será composto por camadas de detecção avançada e interceptores de curto e médio alcance, formando uma “rede de segurança” capaz de proteger áreas urbanas críticas contra mísseis e foguetes. O projeto faz parte da estratégia nacional de elevar o orçamento de defesa acima de 3% do PIB em 2026 e atingir 5% até 2030, conforme anunciado no discurso do Dia Nacional.

Detalhes técnicos e operacionais do T-Dome
Inspirado no Iron Dome de Israel, o T-Dome combinará radares de última geração, sistemas de comando e controle integrados e mísseis interceptores de alta precisão. O Iron Dome, em operação desde 2011, atinge taxas de interceptação entre 87% e 90% contra foguetes de curto alcance e foi testado em combates reais, defendendo distâncias de 4 a 70 quilômetros.
Fontes do governo informam que o T-Dome utilizará variantes aprimoradas dos mísseis Patriot e dos sistemas domésticos Sky Bow, além do novo interceptor Chiang-Kong, capaz de neutralizar ameaças de médio alcance em altitudes superiores às dos Patriot.
A fase inicial envolverá instalação de baterias em torno de Taipei e portos estratégicos, com previsão de testes de interceptação até o meio de 2026. A conclusão da primeira camada operacional está prevista para o final de 2027, quando o sistema deverá cobrir toda a ilha.
Aumento nos gastos de defesa e incentivos regionais
Durante o discurso no Edifício do Escritório Presidencial, Lai enfatizou que os gastos de defesa alcançarão 3,32% do PIB em 2026, totalizando NT$ 949,5 bilhões (US$ 31,18 bilhões) pelo padrão OTAN, e evoluirão para 5% até 2030. O incremento reflete preocupações com ações militares chinesas, que incluem patrulhas da guarda costeira e exercícios que cercam a ilha.
“O aumento nos investimentos defensivos não é apenas uma resposta a ameaças externas, mas também motor para o desenvolvimento das indústrias de defesa locais”, declarou Lai, apontando incentivos fiscais e subsídios para fabricantes taiwaneses de sistemas eletrônicos, radares e munições.
Essas medidas coincidem com pressão de autoridades dos EUA, algumas das quais recomendam que Taiwan eleve os gastos para até 10% do PIB, ressaltando a urgência de fortalecer a dissuasão diante da disparidade de recursos — a China gasta cerca de onze vezes mais em defesa.
Infraestrutura existente e evolução do radar
Até então, Taiwan baseia sua defesa aérea em mísseis Patriot fornecidos pelos EUA e nos sistemas Sky Bow (Tien Kung) desenvolvidos localmente. No mês passado, foi apresentado o Chiang-Kong, míssil capaz de interceptar balísticos de médio alcance em altitudes superiores, aumentando o envelope de defesa.
O T-Dome integrará esses lançadores a um novo conjunto de radares tridimensionais com alcance estendido e sistemas de inteligência artificial para priorizar ameaças automaticamente. Além disso, as comunicações protegidas via satélite garantirão resiliência contra ataques cibernéticos.
Especialistas apontam que a adição de múltiplas camadas — baixa, média e alta altitude — cria redundância crítica, reduzindo a probabilidade de falhas simultâneas e permitindo interceptações sucessivas.
Desafios e ambiente regional
O anúncio do T-Dome ocorre em meio a um aumento das atividades militares chinesas perto de Taiwan. O Ministério da Defesa de Taiwan reportou seis grandes exercícios desde 2022, além de ações de “zona cinzenta” como bloqueios econômicos e ciberataques.
Lai instou Pequim a “abandonar o uso da força ou coerção” e a respeitar o status quo estabelecido pela Resolução 2758 da ONU, que reconhece a República Popular da China como governo legítimo da China. A China, porém, rotulou Lai de “separatista” e rejeitou negociações.
Analistas observam que, embora o T-Dome eleve a dissuasão, a eficácia dependerá de treinamentos contínuos, manutenção de estoques de interceptores e integração com aliados estratégicos, especialmente os EUA e Japão.
Perspectivas de desenvolvimento e produção local
O governo planeja estimular a indústria nacional de defesa, destinando parte dos contratos a empresas locais de eletrônica de precisão, materiais compósitos e software de comando e controle. Universidades e centros de pesquisa serão incluídos em programas de P&D para aprimorar algoritmos de identificação de alvos e autogestão do sistema.
Espera-se que a produção industrial do T-Dome fortaleça a cadeia de suprimentos doméstica, crie milhares de empregos especializados e posicione Taiwan como exportador de tecnologias de defesa adaptadas a cenários de ameaças assimétricas.
O programa também prevê cooperação tecnológica com Israel e EUA, mantendo intercâmbio de informações e testes conjuntos para validar desempenho em diferentes ambientes.
Fortalecimento da dissuasão democrática
Com a implantação multilayer do T-Dome, Taiwan busca consolidar uma barreira defensiva robusta, protegendo seus cidadãos e infraestruturas críticas. O sistema simboliza a determinação da democracia autogovernada de resistir a coerção militar, combinando inovação local e parcerias internacionais.
À medida que o cronograma avança até 2027, a efetividade do T-Dome servirá de termômetro para a capacidade de Taiwan de equilibrar poder tecnológico e alianças estratégicas, mantendo vivo seu modo de vida democrático em meio a desafios geopolíticos.
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