A Rússia iniciou o que especialistas do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW) classificam como “Fase 0” de preparação para um potencial conflito futuro com a OTAN. A avaliação aponta aumento dramático de ataques híbridos — drones, guerra eletrônica e sabotagens — contra países da aliança, enquanto uma onda de avistamentos misteriosos de UAVs fecha aeroportos e provoca tensão diplomática.
Campanha Psicológica Coordenada se Intensifica

O relatório do ISW destaca que o Serviço de Inteligência Exterior da Rússia (SVR) intensificou operações de desinformação e falsas bandeiras contra estados-membros da OTAN. Entre elas estão acusações forjadas de que grupos pró-Ucrânia planejam ataques a embarcações russas, visando semear desconfiança e medo nas populações europeias.
“Essa coordenação de narrativas e operações sugere um movimento deliberado para preparar o terreno político antes de escalar para confrontos militares abertos”, afirma o ISW. Segundo o instituto, essas ações fazem parte da “Fase 0” — estágio prévio à mobilização convencional — em que a Rússia busca obter vantagens estratégicas sem disparar um único tiro oficial.
O aumento de campanhas psicológicas ocorre em paralelo à intensificação de jamming de comunicações militares em bases da OTAN, ataques cibernéticos a redes elétricas e operações de coleta de inteligência por satélites comerciais signal-intercept. Especialistas consideram que o objetivo é fragmentar a coesão da aliança e forçar concessões em negociações futuras.
Interrupções em Aeroportos se Espalham pela Europa
Nos últimos dias, aeroportos de Munique, Oslo e Copenhague fecharam temporariamente após avistamentos de drones em aproximação às pistas. Em Munique, dois fechamentos em 24 horas deixaram mais de 10.000 passageiros retidos, levando autoridades a instalar detectores a laser para prevenção futura.
No Aeroporto Gardermoen, em Oslo, pilotos relataram ver até cinco drones durante pousos, gerando suspensão de operações por várias horas. A Dinamarca e a Bélgica também registraram UAVs sobre bases militares, com relatos de drones voando abaixo da cobertura de radares convencionais.
O chanceler alemão Friedrich Merz declarou: “Nossa suposição é que a Rússia está por trás da maioria desses voos de reconhecimento. É um teste de nossas defesas e da nossa reação política.” O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, negou envolvimento, classificando as acusações como “infundadas” e atribuindo as interrupções a falhas de monitoramento.
Analistas militares sublinham que essas ações de guerra híbrida cumprem funções diversas: testar tempos de reação, identificar pontos fracos em defesa aérea e criar pressão interna em governos europeus — tudo sem recorrer a ataques convencionais que justificariam retaliações diretas.
OTAN Lança Operação Sentinela do Oriente
Em resposta, a OTAN lançou em 12 de setembro a Operação Sentinela do Leste, reforçando o patrulhamento aéreo na fronteira oriental. Caças dinamarqueses, franceses, alemães e britânicos foram destacados para missões de dissuasão, complementando a já existente Sentinela do Báltico, que protege cabos submarinos de comunicação.
O ISW observa que, embora a Rússia não demonstre intenção de iniciar guerra convencional imediata, as atividades coordenadas fazem parte de uma estratégia de “controle reflexivo”: manipular percepções para enfraquecer o apoio ocidental à Ucrânia e desestimular a OTAN de fortalecer defesas.
O Comissário Europeu para a Defesa, Andrius Kubilius, comentou: “Precisamos intensificar exercícios conjuntos, compartilhar dados de inteligência em tempo real e integrar sistemas anti-drone para garantir que a “Fase 0” nunca avance para “Fase 1” — a guerra aberta.”
Enquanto isso, em Sochi, o presidente Vladimir Putin descartou o alerta como “histeria” destinada a inflar gastos militares na Europa, afirmando em tom jocoso que “pararia de enviar drones se a OTAN prometer reduzir orçamentos de defesa”.
O cenário delineia um novo patamar de tensões, em que a linha entre espionagem, sabotagem e conflito aberto se torna cada vez mais tênue. A capacidade de resposta da OTAN a ataques híbridos e a resiliência política dos governos europeus serão cruciais para evitar escaladas no Leste Europeu nos próximos meses.

