Especialistas financeiros vêm soando o alarme para uma possível bolha da inteligência artificial, que, em sua opinião, pode exceder tanto a bolha das empresas “dot-com” do final dos anos 1990 quanto o colapso financeiro de 2008. O CEO do Goldman Sachs, David Solomon, alertou em 3 de outubro que investidores devem se preparar para uma “correção” nos próximos 12 a 24 meses, enquanto relatórios independentes apontam crescimento exponencial de acordos de investimento circular entre gigantes de tecnologia.
Alertas de Bolha se Intensificam

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A MacroStrategy Partnership, liderada pelo ex-estrategista de commodities do UBS Julien Garran, concluiu que a bolha de IA é hoje 17 vezes maior do que a das pontocom e quatro vezes maior que a crise de 2008. Segundo o estudo, se as tendências de investimento e valuation se mantiverem, a economia global pode entrar em um “colapso deflacionário zona 4” — cenário de contração severa com queda de preços e desemprego elevado.
Analistas do Goldman Sachs destacam que o modelo de “receita circular” agrava o risco. A Nvidia projeta reconhecer US$ 13 bilhões em receita da OpenAI em 2026, mas cerca de US$ 10 bilhões desse montante retornariam como investimento da OpenAI na própria Nvidia. “Quando o investimento em participação vem de um fornecedor, é necessário escrutínio redobrado”, observou o analista James Schneider.
O recente anúncio de um acordo histórico entre AMD e OpenAI reforça as dúvidas. A OpenAI poderá adquirir até 10% da AMD, utilizando o equivalente a 6 gigawatts de chips ao longo de cinco anos e recebendo opções para comprar até 160 milhões de ações da AMD a apenas um centavo cada — estrutura que mistura capital e fornecimento sem distinção clara de receita e investimento.
Verificação da Realidade Financeira
Os números da OpenAI ilustram a dualidade entre promessa e risco. No primeiro semestre de 2025, a empresa gerou US$ 4,3 bilhões em receita — 16% acima de todo o faturamento de 2024 — mas queimou US$ 2,5 bilhões em caixa no mesmo período, com P&D consumindo US$ 6,7 bilhões. Avaliada em cerca de US$ 500 bilhões, a OpenAI não projeta fluxo de caixa positivo antes de 2029.
A escala dos contratos de infraestrutura de IA também impressiona. Em 2025, a OpenAI comprometeu-se com cerca de US$ 1 trilhão em acordos de computação, incluindo um contrato de cinco anos no valor de US$ 300 bilhões com a Oracle e a parceria com a AMD. Essas operações frequentemente envolvem cláusulas de opção de compra de ações, garantias cruzadas e investimentos recíprocos que complicam a avaliação de risco real.
Gil Luria, diretor-gerente da D.A. Davidson, comparou o fenômeno ao boom das pontocom, quando empresas construíram redes de fibra óptica antecipando demanda que só se concretizou anos depois. “Há uma parte saudável e outra não saudável nessa expansão. Transações entre partes relacionadas inflacionam avaliações e podem levar a uma correção abrupta se o sentimento mudar”, explicou Luria.
Implicações do Modelo Circular
A concentração de valor em um punhado de empresas focadas em IA atingiu níveis extremos. Os “Sete Magníficos” do setor representam hoje mais de 35% da capitalização total do S&P 500, criando vulnerabilidade sistêmica caso uma correção atinja o segmento. Especialistas apontam três principais implicações:
- Dependência Tecnológica: Startups e corporações menores enfrentam barreiras de entrada crescentes, pois fornecedores de infraestrutura (chips, nuvem, software) podem influenciar preços e acesso.
- Volatilidade de Mercado: Receitas circulares podem tornar difícil distinguir vendas reais de recompras de ações mascaradas como parcerias comerciais.
- Risco Regulatório: Autoridades antitruste nos EUA e na UE monitoram acordos de IA para evitar abuso de posição dominante e uso de options como mecanismo de financiamento encoberto.
O Goldman Sachs, apesar de alertar para os perigos, elevou sua meta de preço para ações da Nvidia de US$ 200 para US$ 210 em 6 de outubro, refletindo confiança no potencial estratégico das parcerias em IA, mas reconhecendo que até 15% das vendas podem derivar desses acordos circulares.

