O Comissário Europeu para a Defesa, Andrius Kubilius, revelou em 5 de outubro que a inteligência alemã obteve indícios de que o Kremlin está debatendo possibilidades de ataques militares contra membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A declaração foi dada em entrevista ao jornal Gazeta Wyborcza e ocorre em um contexto de crescente pressão russa sobre fronteiras da Aliança, incluindo frequentes incursões de drones no espaço aéreo de países europeus.
Avisos de Inteligência Sinalizam Ameaça Crescente

Segundo Kubilius, relatórios internos da Bundesnachrichtendienst (BND) mostraram registros de reuniões de alto nível no Kremlin nas quais foram exploradas opções táticas contra bases e linhas de suprimento da OTAN. “Temos informações verossímeis de que cenários de ataque estão sendo discutidos”, afirmou o Comissário. Ele ressaltou que, mesmo sem confirmação de planejamento operacional, tais indícios não podem ser tratados como meras conjecturas.
Em paralelo, uma avaliação de outubro da inteligência da Dinamarca concluiu que a Rússia intensificou ações de guerra híbrida — combinação de operações cibernéticas, desinformação e ataques de drones — visando infraestruturas sensíveis na Europa Ocidental. Autoridades dinamarquesas indicam que sistemas de radar costeiro identificaram interceptações de sinais de controle de UAVs a centenas de quilômetros das bases navais aliadas, além de manobras de navios de guerra russos em águas internacionais próximas a portos da Escandinávia.
Analistas apontam que a sofisticação das capacidades russas aumentou desde 2024, com uso de drones kamikaze e de reconhecimento capazes de voar abaixo das camadas de defesa aérea convencionais. A frequência desses episódios cresceu 40% nos últimos seis meses, de acordo com relatórios confidenciais citados por Kubilius, o que reforça a necessidade de vigilância constante em toda a fronteira oriental da OTAN.
Putin Descarta as Alegações como “nonsense”
Em reação às declarações europeias, o presidente Vladimir Putin minimizou os alertas, classificando-os como “nonsense” em conferência de política externa em Sochi, em 2 de outubro. Ele acusou os aliados de fabricar ameaças para justificar aumentos no orçamento de defesa dos próprios países. “Não há absolutamente nenhum plano para atacar a OTAN. Essas histórias são inventadas para alarmar a opinião pública e manter elevados os gastos militares na Europa”, declarou Putin.
Durante a mesma conferência, Putin ironizou a cobertura de drones russos sobrevoando países da OTAN, dizendo: “Se os europeus se incomodam com nossos drones, basta avisar e eu mando parar. Para onde mais os drones estariam voando que representem perigo real?”. Autoridades russas também divulgaram imagens de interceptações de supostos drones americanos invadindo o espaço aéreo russo, numa tentativa de contrapor a narrativa ocidental.
Especialistas consideram a postura de negação parte da estratégia russa de guerra híbrida: desacreditar fontes de inteligência e semear desconfiança nas democracias ocidentais. Esse tipo de contraofensiva informativa busca criar ambiguidades sobre a credibilidade dos serviços de segurança aliados, dificultando decisões políticas coordenadas.
Guerra Híbrida Escala na Frente Oriental da OTAN
Os alertas de Kubilius ocorrem em meio a uma série de incidentes de guerra híbrida na região do Báltico e na Europa Central. Em 9 de setembro, aeronaves polonesas e unidades de defesa aérea derrubaram mais de 20 drones russos que avançavam em direção à Ucrânia, mas que violaram o espaço aéreo da Polônia. Foi a primeira vez desde o início do conflito ucraniano que caças da OTAN dispararam contra alvos russos, levando o primeiro-ministro Donald Tusk a invocar o Artigo 4 do tratado da Aliança e convocar consultas de emergência.
Além da Polônia, autoridades da Lituânia e da Letônia registraram avistamentos de drones sobre bases militares e instalações críticas de energia. Em um caso, a usina nuclear de Ignalina teve que interromper temporalmente operações de refrigeração por precaução. Navios de guerra russos também patrulham águas próximas às fronteiras marítimas da NATO, usando sistemas de radar de alta frequência para mapear rotas de navios mercantes aliados.
O Comissário Kubilius alertou que essas ações fazem parte de um padrão deliberado de testagem das defesas da OTAN, visando encontrar pontos fracos em coordenação entre países. Ele apelou à intensificação de exercícios conjuntos, à interoperabilidade de radares e à ampliação de sistemas de defesa contra UAVs em toda a região: “Precisamos de respostas tecnológicas e políticas coerentes para dissuadir qualquer agressão futura.”

