Os países do BRICS revelaram um plano ambicioso para estabelecer um sistema de pagamentos sem o dólar até 2030, marcando um dos desafios mais significativos à dominância financeira ocidental em décadas. O vice-ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Ryabkov, confirmou que a estrutura está avançando rapidamente sob a presidência brasileira e pode estar operacional antes do final da década.
A iniciativa de pagamento transfronteiriço, discutida na cúpula do BRICS de julho de 2025 no Rio de Janeiro, visa criar “uma arquitetura financeira mais justa e equilibrada” para economias em desenvolvimento. Segundo o comunicado final dos ministros das Finanças e governadores de bancos centrais, houve progresso na identificação de possíveis caminhos para “interoperabilidade” dos sistemas de pagamento dos países membros.
Infraestrutura Alternativa em Desenvolvimento

Bolsa de Metais Preciosos
O BRICS já lançou uma bolsa de metais preciosos que permite aos países liquidar pagamentos em ouro, platina, diamantes e minerais de terras raras, contornando completamente sistemas ocidentais como a London Metal Exchange e o SWIFT. Esta plataforma aproveita o controle do bloco sobre 72% das reservas mundiais de metais de terras raras e 68% do comércio global que já evita o dólar.
A Bolsa de Futuros de Xangai, lançada em março de 2024, facilita a negociação física de ouro com liquidação imediata T+0, desafiando os sistemas tradicionais ocidentais baseados em papel. A China oferece agora guardar as reservas de ouro de bancos centrais estrangeiros através da Bolsa de Ouro de Xangai.
Sistema BRICS Pay
O Fórum Financeiro de Moscou apresentou um protótipo do “BRICS Pay”, sistema descentralizado de mensagens de pagamento projetado para processar até 20.000 mensagens por segundo sem taxas obrigatórias de transação. O sistema conectaria infraestruturas nacionais existentes, incluindo o SPFS da Rússia, o CIPS da China, o UPI da Índia e o Pix do Brasil.
Características Técnicas do BRICS Pay:
- Sistema de Mensagens Transfronteiriças Descentralizado (DCMS) baseado em blockchain
- Capacidade de 20.000 mensagens por segundo com requisitos mínimos de hardware
- Operação sem autoridade central, com cada país gerenciando seu próprio nó
- Criptografia múltipla e assinatura digital
- Código aberto após fase piloto
A China apoia completamente a iniciativa BRICS Pay desde outubro de 2024. O sistema QR padronizado permitirá conexão entre métodos de pagamento nacionais e sistemas comerciais nos países BRICS+.
Realidade dos Pagamentos em Moedas Locais
Mais de 90% dos pagamentos da Rússia com a China já são realizados em rublos e yuans, demonstrando o alcance potencial do sistema. Este percentual representa aumento significativo dos 27,5% registrados no primeiro trimestre de 2022. Com a Índia, mais de 50% do comércio russo também contorna o dólar.
O comércio bilateral Rússia-China atingiu recorde de US$ 240 bilhões em 2023, com crescimento esperado para 2024. A participação do yuan nas exportações russas para a China saltou de 0,5% em 2021 para 16% em 2022.
Resistências e Desafios
O sistema enfrenta desafios significativos de coordenação entre países com diferentes abordagens regulamentais. Brasil e Índia expressaram reservas sobre aspectos anti-ocidentais da iniciativa, priorizando seus vínculos econômicos com Estados Unidos e Europa.
As diferenças tecnológicas e políticas entre os membros atrasaram a implementação, com conexões seguras entre sistemas nacionais apenas parcialmente implementadas. A conversibilidade limitada de moedas como yuan chinês e rupia indiana também representa obstáculo.
Impactos Potenciais
Se economias sul-americanas adotarem o sistema, analistas alertam que isso pode corroer significativamente a dominância global do dólar americano e potencialmente desencadear pressões inflacionárias nos Estados Unidos. Países africanos também se posicionam para integrar a rede assim que operacional.
A iniciativa representa mudança estratégica rumo a ordem financeira multipolar que pode remodelar fundamentalmente o comércio global até 2030. O bloco BRICS expandido representa 45% da população mundial e 35% do PIB global, oferecendo base sólida para sistema financeiro alternativo.
O trabalho no sistema está sendo finalizado como parte da “estratégia de parceria econômica do BRICS até 2030”, com o Brasil liderando os esforços durante sua presidência em 2025.

